Polêmica sobre o uso de transgênicos cresce na África
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Apesar de os esforços internacionais para tentar livrar cerca de 30 milhões de africanos da ameaça da fome, o debate sobre o uso de alimentos geneticamente modificados cresce no continente e provoca polêmica até entre funcionários da ONU (Organização das Nações Unidas).
A Zâmbia está se recusando a aceitar qualquer tipo de assistência que inclua transgênicos e seus vizinhos aceitaram receber grãos geneticamente modificados desde que eles sejam moídos antes da distribuição.
Esses países temem que, ao aceitarem receber transgênicos do exterior, um grande número de sementes geneticamente modificadas poderá ser plantado no país, o que pode provocar a contaminação de plantações domésticas.
Nenhum país do mundo ainda desenvolveu estudos eficientes sobre que impactos o plantio e consumo de transgênicos podem trazer à saúde humana e ao meio ambiente.
EUA e multinacionais
A maior parte dos transgênicos enviados à África sai dos Estados Unidos.
A Agência Internacional de Desenvolvimento dos Estados Unidos (UsAid) afirma que não há milho disponível sem alterações genéticas. Os americanos desprezam qualquer crítica em relação a esses alimentos.
Agências humanitárias e de caridade estão divididas sobre se países pobres devem ou não receber transgênicos.
As discordâncias são sobre até que ponto o envio desses alimentos vai trazer benefícios a longo prazo para a África.
Além da Zâmbia, Zimbábue e Moçambique são outros países africanos que resistem ao uso de transgênicos.
Eles temem que as sementes modificadas possam contaminar as produções locais e que elas sejam plantadas antes de uma avaliação mais precisa sobre o seu impacto ambiental.
Zimbábue, Moçambique e Malawi aceitaram receber as sementes, desde que elas fosse moídas, o que reduziria possíveis danos.
Polêmica na ONU
Angola, Lesoto e Suazilândia ainda não se posicionaram nem contra nem a favor ao recebimento de transgênicos.
James Morris, diretor do Programa Mundial de Alimentos (WFP), vinculado às Nações Unidas, comemorou a decisão do Zimbábue.
A Zâmbia enviou uma equipe de cientistas para os Estados Unidos, a Europa e a África do Sul para examinar a questão dos transgênicos.
A missão reforçou a decisão da Zâmbia de proibir o uso de transgênicos, e o presidente, Levy Mwanawasa, chamou os alimentos de "veneno".
O debate dos transgênicos promete ser ainda mais acirrado e pode comprometer não só a relação entre os países, como também entre governos e as empresas multinacionais, as maiores fabricantes de alimentos geneticamente modificados.
Até funcionários da ONU divergem sobre o tema.
Um dos investigadores do Programa de Alimentos das Nações Unidas (FAO), Jean Ziegler, por exemplo, disse ser contra a teoria de que somente os transgênicos resolveriam o problema da fome na África.
"Há muitos alimentos normais, bons, que podem alimentar o dobro de pessoas que são alimentadas hoje", disse Ziegler.
Organizações não-governamentais temem que o envio de transgênicos à África crie um "círculo vicioso" no continente, tornando governos e populações dependentes de empresas multinacionais.
Governos ocidentais, no entanto, encorajam o envio de sementes geneticamente modificadas e ajudaram a criar um consórcio chamado Biotecnologia Africana, para estudar e estimular o uso de transgênicos.
"A minha cruzada é assegurar que as pessoas não morram de fome na África", disse o diretor do consórcio John Wafula.